segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Eu te detesto e amo, carnaval

Há os que o defendam fervorosamente como os que o condenem incontestemente. Até aqui nada de incomum, posto que tudo o que é controverso não inspira apatia ou indiferença. Inspira sentimentos e razões antagônicas, assim como enchurradas de proposições e um tato a mais de ímpeto e sagacidade nas pessoas. Cada qual com sua verdade, diferente e absolutamente verídica, defende ideologias com argumentos que lhe chegam à boca com a mesma facilidade que a chuva ao chão. Sempre pertinentes, ávidos e surpreendentes. Decerto que algo que desperte tanta astúcia e emoção nos homens não pode ser de todo ruim, mesmo que haja os que não o surporte. Decerto que tudo o que é controverso é gostoso e perigoso de falar. Decerto que poucos assuntos de cunho popular são tão controversos quanto o carnaval.


O fato é que eu detesto o carnaval e amo detestá-lo. Detesto-o, porém, com respeito, apesar da ironia, prima-irmã do sarcasmo. Vejo o carnaval como a manifestação epopéica da ignorância infecto-contagiosa. O carnaval é a ignorância ignorantezante. Enquanto Carlinhos Brown cantava enlouquecido ao ritmos dos tambores, o governador do distrito federal tocava o vidro da sala que ocupava no prédio da polícia federal, à reco-reco. Em pleno carnaval, José Roberto Arruda sambou, instaurando um marco no senário político do país, como primeiro governador em exercício a ser preso. Mas, é carnaval. E em meio a tanto samba, axé e frevo, o Jornal Nacional utilizou 35 segundos de seu precioso tempo à reportar este acontecimento histórico, que tantos idealistas morreriam para ter o prazer de presenciar. Bonner explicita em seu livro que o objetivo único do JN é apresentar o que de mais importante acontece no Brasil e no mundo. Logo, época de carnaval a corrupção, política e justiça são temas exclusivos da sapucaí. É, vamos ter que esperar até o próximo carnaval para podermos conhecer este episódio a fundo, se a prisão de Arruda virar tema de uma escola de samba.

É uma pena. Pena para todos, pois o povo é penalizado pela sua própria ignorância. Sofre com as altas taxas tributárias e sofre para pagar sua fantasia de carnaval. Enfim, quando tudo graças a Deus acaba, vejo muitos cidadãos na rua, a passos lentos, pesados. Perguntando-os o porquê de tanto marasmo, presencio o que nunca esperava de uma pessoa de valores tão duvidosos, ouço um trecho duma canção de Chico "tô me guardando pra quando o carnaval chegar".

4 comentários:

  1. Olá João,
    Adorei suas reflexões e a forma como você colocou a sua visão sobre como nosso povo reage e pensa. Parabéns pelo texto e pela abordagem. Ficou tudo, muito, muito bom. E nasce um grande jornalista... Bjs. Magda

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  2. João,
    Seu texto está bem interessante. Sua crítica foi bem pertinente. A forma como abordou tal tema faz com que mesmo que ama incondicionalmente o carnaval pare por alguns instantes e reflita. Beijos.

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  3. Muito bom, João!
    Senso crítico inteligente e político!
    Você vai longe...

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  4. Gostei do seu texto João, principalmente porque possui bastante informação. Seu posicionamento também é claro e mesmo com tanta informação você não foge do caminho, não perde a linha de raciocínio. Parabéns!!

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